O Que Foi a Reforma Protestante? É Possível Uma Nova Reforma?
A Reforma Protestante foi um fenômeno
que ocorreu no século 16 na Europa e resultou na divisão da Igreja entre
Católicos e Protestantes. Os Protestantes questionaram as doutrinas e o rumo da
Igreja Medieval que atravessava um período de grande crise e se afastava cada
vez mais das Escrituras.
O principal foco da Reforma
Protestante foi espiritual, mas além do fator religioso, o movimento de reforma
também abrangeu elementos políticos, econômicos, sociais e intelectuais.
A
origem da Reforma Protestante
O
contexto histórico revela que foi a união de diversos fatores que resultaram na
Reforma Protestante. De forma bastante resumida, podemos
pontuar os principais elementos que compuseram aquele ambiente histórico entre
séculos 14 e 16 da seguinte forma:
1. A economia estava sofrendo uma grande mudança, com o modelo feudal em
declínio e o fortalecimento da burguesia.
2. Houve também o surgimento dos Estados Nacionais originando os países
modernos da Europa e causando uma descentralização no poder político,
resultando, inclusive, em uma grande tensão entre o Estado e a Igreja.
3. O conflito entre o Estado e a Igreja levou a um declínio do Papado.
Nesse período ocorreu o chamado “Cativeiro Babilônico da Igreja” (1309-1377),
quando a administração da Igreja foi transferida de Roma para a França. Logo
depois também ocorreu o “Grande Cisma”, um período em que até três papas rivais
disputaram a liderança da Igreja simultaneamente.
4. Nesse contexto também houve a guerra entre Inglaterra e França, a Guerra
dos Cem Anos, além de um aumento descomunal da mortalidade causado por várias
epidemias, como a Peste Negra.
5.
Nesse momento já havia a manifestação
de movimentos pró-reforma que antecederam a reforma do século 16. Embora alguns
desses movimentos estavam muito ligados à luta por uma reforma moral, alguns
homens lideraram movimentos de oposição direta a teologia da Igreja Medieval.
Estes homens são chamados de pré-reformadores, dos quais se destacam John
Wycliffe e John Huss. Conheça quem foram os pré-reformadores da Igreja.
6. Também surgiram os chamados “Movimentos Devocionais”. Esses movimentos
não protestavam contra as doutrinas da Igreja, mas se concentravam na vida
devocional. Mais tarde, esses movimentos também exerceram certa influência
sobre os reformadores.
7. No âmbito intelectual, nesse período da Renascença ocorreu também o
movimento do humanismo. Entre os humanistas bíblicos, cresceu o interesse pelo
estudo da Bíblia nas línguas originais em que ela foi escrita. Aqui se destaca
a publicação do Novo Testamento Grego por Erasmo de Roterdã, uma obra que foi
muito utilizada pelos reformadores.
A
Igreja antes de Reforma
Falando
especificamente sobre a Igreja do final da Idade Média, o que se podia ver era
um distanciamento profundo das Escrituras. Além
de toda corrupção na liderança da Igreja e em seu envolvimento com o Estado que
causava muita insatisfação, as pessoas eram doutrinadas sob uma religiosidade
baseada nos méritos humanos.
A
doutrina da justificação pela fé havia sido substituída por uma teologia que
ensinava a salvação pelas obras. O ensino bíblico acerca do pecado havia sido
banalizado com um verdadeiro comércio de perdão de pecados.
As pessoas podiam comprar garantias
de sua salvação pessoal através das cartas de indulgências. Logo, o
arrependimento nem mesmo era mais requerido para o perdão de pecados, bastando
apenas uma doação generosa para a Igreja. Segundo a liderança da Igreja, as
indulgências poderiam, inclusive, resolver o problema de pessoas que já tinham
morrido e que supostamente estavam no purgatório.
O
início da Reforma Protestante do século 16
Apesar da existência anterior de
outros protestos contra as doutrinas da Igreja Medieval, foi apenas no século
16 que o movimento de reforma alcançou proporções gigantescas e mudou
definitivamente o Cristianismo mundial.
Vivendo
sob esse ambiente obscuro, tanto teológico quanto moral, um monge agostiniano
nascido na Saxônia, Martinho Lutero, resolveu protestar contra os abusos da
Igreja. Então em 1517 Lutero pregou 95 Teses na porta da Capela de Wittenberg falando
especialmente contra a questão das indulgências e apontando para a verdadeira
doutrina bíblica da justificação pela fé.
A intenção de Martinho Lutero não era
dividir a Igreja, mas convidar os teólogos a um debate e reflexão, com o
objetivo de promover uma reforma na igreja de dentro para fora, a fim de que
ela retornasse às Escrituras e se tornasse mais semelhante a Cristo.
O
protesto de Lutero foi motivado por seu estudo cuidadoso das Escrituras,
especialmente nos ensinos do apóstolo Paulo acerca da salvação pela
graça e não por obras. Um texto que mudou a visão teológica de Lutero
definitivamente foi Romanos 1:17, quando ele leu que o justo viverá pela fé.
Tendo seu entendimento acerca das
Escrituras iluminado pelo Espírito Santo, aquele monge alemão não poderia mais
tolerar os abusos doutrinários da Igreja, nem se calar diante da distorção do
Evangelho.
A
liderança da Igreja não admitiu o protesto de Lutero, e nem aceitou seu convite
para um debate (disputa escolástica). Ao invés disso, a Igreja excomungou o
monge alemão, condenando-o como herege, e começou a persegui-lo. Todo esse episódio abriu as portas para a Reforma Protestante.
Movimentos
Protestantes
A Reforma Protestante foi um
movimento heterogêneo, de modo que várias manifestações ocorreram nos países
europeus. No geral, esses movimentos de reforma concordavam sobre os pontos
centrais da fé cristã, mas discordavam em questões secundárias.
Os principais movimentos protestantes
foram:
·
Luteranos, com a reforma na Alemanha
sob a liderança de Martinho Lutero e Filipe Melanchton.
·
Reformados, com a reforma em Zurique
sob a liderança de Ulrico Zuínglio e em Genebra com João Calvino.
·
Anabatistas, também em Zurique com
Conrad Grebel e Felix Mantz, mas de forma mais radical, conflitando inclusive
com Zuínglio.
·
Anglicanos, com a reforma na
Inglaterra sob a liderança de Henrique VIII e depois Eduardo VI e Maria I.
Depois
do século 17, especialmente derivados dos movimentos de reforma na Suíça e na
Inglaterra, surgiram novos grupos protestantes, como por exemplo, os
presbiterianos, batistas, congregacionais e metodistas. Estes grupos foram
importantíssimos na área de missões, com destaque para a evangelização das Américas.
Saiba também quem foram os grandes reformadores do século 16.
As
principais doutrinas da Reforma
De forma geral, o movimento de
Reforma baseava-se em três pontos principais:
1.
A centralidade das Escrituras (Sola Scriptura), rejeitando a ideia de revelação
continuada e enfatizando que somente a Bíblia é a Palavra de Deus infalível e
inerrante, de modo que ela está completa e possui plena autoridade sobre todos,
e nenhuma tradição jamais poderá equipará-la (Tota Scriptura).
2.
A justificação pela fé, rejeitando
qualquer ideia de justificação pelas obras que resultaria numa salvação
meritória. Mais tarde esse ponto acerca da verdade bíblica sobre a obra da
salvação foi sintetizado nos lemas: Sola Gratia (somente
a graça), Solus Christus (somente Cristo), Sola Fides (somente a fé) e Soli Deo Gloria(somente a Deus a glória).
3. O sacerdócio de todos os crentes, entendendo que o único intermediário
entre Deus e o homem é Cristo, e que através de sua obra todos os cristãos
verdadeiros são feitos reis e sacerdotes, no sentido de que eles possuem acesso
direto a Deus. Com isso, o conceito de divisão entre clero e leigos foi
rejeitado, visto que a Igreja é a comunhão dos fiéis.
As
consequências da Reforma
A
Reforma Protestante causou uma divisão irreversível na Igreja Ocidental. Essa divisão foi acompanhada de muitos conflitos violentos entre
católicos e protestantes. Infelizmente as pessoas matavam em nome da fé.
Para tentar combater os movimentos
protestantes, a Igreja Católica promoveu o que ficou conhecido como
“Contra-Reforma”, onde a Inquisição foi um dos instrumentos utilizados. Também
houve um tipo de Reforma Católica, com a tentativa de resolução de alguns erros
e problemas do próprio catolicismo.
Apesar
de tudo isso, a Reforma Protestante levantou a bandeira do Evangelho fazendo
com que despertasse novamente aquele Cristianismo fundamentado nas Escrituras,
um Cristianismo cujo centro é Cristo, semelhantemente a Igreja do período
apostólico. A Reforma Protestante foi o maior movimento espiritual desde o
Pentecostes (Atos 2). Entenda o que foi o Pentecostes.
É
possível uma nova Reforma hoje?
Depois de 500 anos, muitas pessoas se
perguntam se é possível uma nova Reforma, visto a realidade lamentável em que
se encontra grande parte das comunidades protestantes. Todavia, é claro que uma
reforma como a que ocorreu no século 16 não será mais possível.
Como vimos, uma série de fatores num
ambiente histórico específico convergiram para o fenômeno da Reforma
Protestante, e isso nunca mais se repetirá. Além do mais, quando a Reforma
aconteceu só havia uma Igreja (com exceção da Igreja Oriental) que precisava
ser reformada.
Já na atualidade, temos milhares de
igrejas que se distanciaram em menor e maior grau das Escrituras. Isso
significa que embora uma Reforma como a que teve lugar no século 16 não seja
mais possível, a verdade é que a Igreja continua clamando por reforma.
Independentemente da época, Satanás
sempre levanta seus agentes para tentar distorcer e manipular a Palavra de
Deus, de modo que os verdadeiros cristãos são diariamente apresentados diante
de novos desafios em que é preciso defender a causa do Evangelho.
Por
esse motivo a frase do teólogo reformado Gisbertus Voetius (1589-1676) é tão
pertinente: Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est, que
significa “A Igreja é Reformada e está sempre se reformando”.
Apesar de também ser muito distorcida
por grupos de pseudocristãos, essa frase indica a necessidade constante de a
Igreja estar preocupada em se parecer mais e mais com Cristo e em sempre se
aproximar das Escrituras como seu alvo principal, entendendo que a Palavra de
Deus jamais muda.
É por isso que o grande destaque da
reforma não foram as 95 Teses de Lutero, ou os 67 Artigos de Zuínglio, nem
mesmo as Institutas de Calvino. O grande destaque foi a Bíblia, a Palavra de
Deus.
Os reformadores não descobriram novas
doutrinas, mas apenas redescobriram as verdades imutáveis das Escrituras que
tinham sido escondidas pelo entulho das tradições humanas. Isso significa que o
verdadeiro agente reformador da Igreja não foi nenhum desses nomes, mas o
próprio Espírito de Deus.
A Igreja genuína continua em reforma
porque ela é Templo do Espírito Santo, e jamais deixará que tradições ou mesmo
inovações e pensamentos relativistas e subjetivos soterrem a verdade do
Evangelho. A Reforma Protestante do século 16 nos lembra da necessidade de não
se dobrar ao pecado e da importância de se retornar às Escrituras quantas vezes
forem necessárias.
FONTE: https://estiloadoracao.com/reforma-protestante/
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