sexta-feira, 20 de abril de 2018

ISRAEL E O MÊS DE MAIO

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ISRAEL E O MÊS DE MAIO


Ciro Sanches Zibordi

O mês de maio é muito significativo para O Estado de Israel. Grandes acontecimentos se deram nesse mês, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a começar pela derrota da Alemanha nazista, em 8 de maio de 1945. Depois da vitória dos Aliados, Israel finalmente poderia se estruturar para ter o seu Estado proclamado. E isso aconteceria três anos mais tarde.


Em 14 de maio de 1948, terminou o Mandato Britânico. O domínio da Grã-Bretanha sobre Israel perdurou por trinta anos (1918-1948). À época, a população judaica na Terra de Israel era de 650 mil pessoas e já formava uma comunidade organizada, com instituições políticas, sociais e econômicas bem desenvolvidas. Israel já era uma nação em todos os sentidos, faltando apenas à oficialização do Estado. Naquele mesmo dia foi proclamado o Estado de Israel, de acordo com o plano de partilha da ONU (Organização das Nações Unidas) de 1947.


Apenas onze minutos após essa proclamação, o presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman reconheceu o Estado de Israel. Isso marcou o início de uma profunda amizade e respeito mútuo, baseados em valores democráticos comuns, decorrentes de sistemas políticos e jurídicos firmemente apoiados nas tradições liberais. O relacionamento entre eles é tão bom que, às vezes, eles “concordam em discordar”. Em um único dia (14 de maio de 1948), Israel se tornou independente da Grã-Bretanha, teve o seu Estado proclamado e firmou uma amizade com a maior potência mundial. Mas, no dia seguinte, começariam as dificuldades.

Menos de 24 horas após a proclamação do Estado de Israel, os exércitos regulares de Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram o novo país, forçando Israel a defender a soberania que acabara de conquistar. Essa Guerra da Independência, vencida por Israel, durou quinze meses (maio de 1948-julho de 1949) e ceifou a vida de seis mil israelenses (quase 1% da população). Mas, ainda durante esse período, os israelenses obtiveram uma grande vitória no âmbito político. Em 11 de maio de 1949, o Estado de Israel se tornou o 59º membro das Nações Unidas.

Em 1960, um dos principais organizadores do programa de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial, Adolfo Eichmann, foi levado para Israel a fim de ser julgado segundo a legislação israelense de punição aos nazistas e seus colaboradores, criada em 1950. Eichmann, considerado culpado de crimes contra a humanidade e o povo judeu, foi condenado à morte e enforcado em 30 de maio de 1962. Essa foi à única vez em que a pena de morte foi aplicada sob a lei israelense.


Cinco anos mais tarde aconteceria a Guerra dos Seis Dias. Em maio de 1967, o Egito novamente deslocou um grande número de tropas para o deserto do Sinai, ordenando que as forças de manutenção de paz da ONU se retirassem da Palestina. Israel, então, invocando seu direito inerente de autodefesa, obteve grande vitória, após seis dias de combate.


Em maio de 1994, com o objetivo de por termo ao conflito Israel-palestino e, pelo menos, minimizar o conflito árabe-israelense, Israel e a então OLP (Organização para Libertação da Palestina) deram um importante passo. Israelenses e palestinos, que tinham assinado em Washigton D.C., nos Estados Unidos, uma Declaração de Princípios, começaram a conversar, visando ao estabelecimento de um autogoverno na Faixa de Gaza e na área de Jericó. A última etapa das negociações entre eles se iniciaram, de acordo com o que estava previsto, em maio de 1996. Nesses mesmos mês e ano, Israel abriu escritórios de representação comercial em Oman e no Qatar.


Diante do exposto, aproveito este mês de maio para parabenizar, mais uma vez, a todo o povo israelense pelo aniversário de 65 anos de proclamação do Estado de Israel. Finalizo, pois, este artigo citando um trecho veterotestamentário das Escrituras Sagradas: “Rogai ao Eterno pela paz em Jerusalém! Prosperem os que te amam, ó Jerusalém! Haja paz em teus baluartes e segurança em teus palácios. Por amor a meus irmãos e companheiros, rogarei por Tua paz. Por amor à Casa do Eterno, nosso Deus, buscarei sempre o Teu bem” (Bíblia Hebraica, Editora Sêfer, Salmo 122).


Ciro Sanches Zibordi
Referências
TOSSERI, Oliver. História Viva. São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/a_segunda_guerra_acabou_em_maio_de_1945__falso_.html>. Acesso em: 17 mai. 2013.
ZIBORDI, Ciro Sanches. Estado de Israel completa 63 anos. Niterói, 2011. Disponível em: <http://cirozibordi.blogspot.com.br/2011/05/israel-completa-63-anos-nesta-semana.html>. Acesso em: 17 mai. 2013.
ZIBORDI, Ciro Sanches. Erros Escatológicos que os Pregadores Devem Evitar, Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
ZIBORDI, Ciro Sanches. Israel, 1948. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://www.cpadnews.com.br/blog/cirozibordi>.

“SALVAÇÃO – O AMOR E A MISERICÓRDIA DE DEUS”




ADMEP

Departamento de Educação Cristã
Escola Bíblica Dominical


SALVAÇÃO – O AMOR E A MISERICÓRDIA DE DEUS

Texto Áureo:

“Vós que, em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia. ”

 (I Pe 2. 10)



Verdade Prática:

A partir de seu amor misericordioso, aprouve a Deus enviar seu Filho para morrer em lugar da humanidade.


Leitura Bíblica em Classe

I João 4. 13 – 19

Introdução: - Na lição de hoje estudaremos a respeito do amor e misericórdia de Deus no perfeito plano divino da salvação. Por méritos próprios, nenhum ser humano alcançaria a dádiva da salvação, pois ela é, e continuará sendo, resultado da graça, do favor do Pai. Contudo, é difícil para nós, seres imperfeitos e limitados, compreender o amor altruísta e a misericórdia de Deus em nosso favor. Mas Ele nos amou! E assim como o Pai nos amou e nos perdoou, nós como filhos seus, precisamos também amar e sermos misericordiosos, pois agindo com amor e misericórdia, estaremos glorificando o nome dEle.

A salvação é obra do imenso amor de Deus e de sua misericórdia. Essa obra só foi possível porque o Pai amou tanto a humanidade a ponto de dar o seu próprio Filho para morrer no lugar dela. Assim, por intermédio de sua misericórdia, Deus concedeu perdão ao pecador, fazendo deste seu filho por adoção, dando-lhe vida em abundância.

I.             O MARAVILHOSO AMOR DE DEUS

1)           Deus é amor. – Se é difícil dimensionar o amor da mãe pelos filhos, imagine o amor de Deus, que é mais profundo e incomensurável (Is 49. 15; Oseias 11. 1 – 4). Amar reflete a natureza do próprio Deus, pois Ele é amor (I Jo 4. 8, 16; Jo 3. 16). “Porque Deus amou...” (agapao) (o verbo). Amor incondicional, amor por escolha e por um gesto da vontade. A palavra denota benevolência inconquistável e boa vontade invencível.  Agapao nunca procura nada, a não ser o bem maior para a humanidade companheira. Agapao (o verbo) e ágape (o substantivo) são palavras para o amor incondicional de Deus. Não precisa química, afinidade ou sentimento). Agapao é uma palavra que pertence exclusivamente à comunidade cristã. É um amor virtualmente desconhecido para os escritores de fora do NT. Deus é ágape. Assim, a maior demonstração do amor de Deus pelo mundo foi quando Ele entregou vicariamente o seu amado Filho (Rm 5. 8; 2 Co 5. 14; Gl 2.20). Logo, o objeto desse amor vai muito além da Criação, pois tem, na humanidade, seu valor monumental. (Jo 3. 16).

2)       Um amor que não se pode conter. – Deus sempre amou o ser humano. A criação do homem e da mulher, por si mesma, é a prova desse amor divino (Gn 1.  26, 27; Jo 3. 16), “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira...” a expressão de “tal maneira” enfatiza a intensidade ou grandeza do amor de Deus. O Pai deu o seu único e amado Filho para morrer em favor dos homens pecadores.

3)         A certeza do amor de Deus. – Deus não é como nós, jamais abandona os seus filhos, ainda que estes o tenham ofendido (Lc 15. 11 – 32): A Parábola do Filho Pródigo: O pai retrata Deus, ansioso por perdoar o pecador e desejando a sua volta. O Amor de Deus não se baseia no ser humano, objeto de seu amor, mas nele mesmo (Dt 7. 6,7), a fonte inesgotável de amor.

II.             UM DEUS MISERICORDIOSO

2.1.     O que é misericórdia? - A palavra Misericórdia tem origem latina, e é formada pela junção de miserere ter compaixão”, e cordiscoração”. “Ter compaixão de coração”, significa ter a capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente; aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém; ser solidário com as pessoas. Portanto, a Misericórdia é um sentimento de compaixão, despertado pela desgraça ou pela miséria alheia.

ü   No Antigo Testamento as palavras que falam de Misericórdia são: Hesed e Rahªmim.

Hesed, que significa favor não merecido, afabilidade, benevolência e denota graça divina e Misericórdia. O termo em hebraico “hesed”, também indica uma profunda atitude de «bondade». Quando esta disposição se estabelece entre duas pessoas, estas passam a ser, não apenas benévolas uma para com a outra, mas também reciprocamente fiéis por força de um compromisso interior.

ü   No Novo Testamento. O termo Misericórdia no Novo Testamento é identificado com o substantivo grego “eleos”. Também é definido com o verbo grego “eleao”. Tanto o substantivo como o verbo significam o sentimento que é experimentado no infortúnio que aflige a outra pessoa e a ação que decorre desse sentimento. Portanto, a Misericórdia de Deus no Novo Testamento se revela como um amor compassivo que vai onde há sofrimento e cura todo tipo de males, mas também revela que é um Deus que perdoa, reconcilia e regenera o homem. Jesus dá mostras constantes dessa Misericórdia em sentimento e em obras: à multidão (Mc 6,34) aos doentes (Mt 14,4), à viúva (Lc 7,13). Também revela o perfil do Pai como sendo um Deus rico em Misericórdia (Lc 15,20).

2.2. O Pai da misericórdia. -  A Bíblia afirma que Deus é o Pai da misericórdia (2 Co 1. 3; Êx 34. 6; Jn 4. 2). Paulo tomou emprestado da linguagem litúrgica dos judeus e de uma oração da sinagoga que pedia a Deus para tratar cada pecador com bondade, amor e carinho (Rm 12. 1; 2 Sm 24. 14; Sl 103. 13 – 14; Mq 7. 18 -20).

2.3.     Misericórdia com o pecador. - Rahªmim o matiz do seu significado é um pouco diverso do significado de hesed. Enquanto hesed acentua as características da fidelidade para consigo mesmo e da “responsabilidade pelo próprio amor”; rahªmim denota o amor da mãe (rehem= seio materno). Do vínculo mais profundo e originário da unidade que liga a mãe ao filho, brota uma particular relação com ele, um amor particular. Deste amor pode-se dizer que é totalmente gratuito, não fruto de merecimento, e que, sob este aspecto, constitui uma necessidade interior: é uma exigência do coração. Sobre este fundo psicológico, rahªmim dá origem a uma gama de sentimentos, entre os quais a bondade, a ternura, a paciência e a compreensão, florescem como prontidão para perdoar. (Lc 15. 11, 12), o pai retrata Deus, ansioso por perdoar o pecador e desejando a sua volta. A característica principal, porém, como acontece com as outras parábolas desse capítulo, é a alegria de Deus, as celebrações que enchem o céu quando um pecador se arrepende. – Deus é um Pai misericordioso.

                         
III.        AMOR, BONDADE E COMPAIXÃO NA VIDA DO SALVO

3.1.     Amor como adoração a Deus. –  O mandamento bíblico convida o ser humano a amar o Senhor Deus acima de todas as coisas (Dt 6 .5; Mc 12. 29, 30). Isto não é apenas uma lei moral, mas um sentimento de profunda devoção de coração; uma necessidade concedida pelo Altíssimo ao homem para que este desfrute do deleite de sua presença. (Dt 30. 6). “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus. ” Em primeiro lugar na lista de tudo, era essencial que um judeu comprometido devia sem reservas e sinceramente confessar, era amor a Deus. Já que esse relacionamento de amor a Deus não podia ser representado de modo material como no caso de ídolos, devia ser demonstrado em obediência diária à lei de Deus. (Dt 11. 16 -21; Mt 22. 37; Lc 10. 27).

3.2.     Amar ao próprio. – Porque o amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5. 14; Mt 22. 38; Mc 12. 31); Jesus levou a pergunta dos fariseus um passo adiante ao identificar o segundo maior mandamento, porque ele era fundamental para uma compreensão da tarefa de amar como um todo. Esse mandamento, também dos livros de Moisés (Lv 19. 18), é da mesma natureza e caráter do primeiro. O amor genuíno por Deus é seguido em importância por um genuíno amor pelas pessoas (Mt 22. 39). “Amar uns aos outros” é a maneira mais eficaz de demonstrar ao mundo que somos seguidores de Jesus (Jo 13. 34, 35). – “Novo mandamento ... assim como eu vos amei”. O mandamento para amar não era novo. Em Dt 6. 5 há a ordem para amar a Deus e Lv 19. 18 ordenou amar o próximo como a si mesmo (cf. Mt 22. 34 – 40; Rm 13. 8 – 10; Gl 5. 14; Tg 2. 8). Entretanto, o mandamento de Jesus de amar apresenta um padrão distintamente novo por duas razões: 1) – era amor sacrificial modelado segundo o amor dele (“como eu vos amei”; cf. 15. 13) e 2) – é produzido por meio da Nova Aliança pelo poder transformador do Espírito Santo (cf. Jr 31. 29 – 34; Ez 36. 24 – 26; Gl 5. 22).

3.3.     Amor como serviço diaconal. – Quando Jesus lavou os pés dos discípulos, Ele ensinou, na prática, um estilo de vida que deveria caracterizar seus discípulos (Jo 13. 14), ou seja, o de um servir ao outro. “Amar uns aos outros” é a maneira mais eficaz de demonstrar ao mundo que somos seguidores de Jesus (Jo 13. 35; Mt 5. 7; Tg 2. 13). A pessoa cuja vida é caracterizada pela misericórdia está preparada para o dia do juízo e escapará de todas as acusações que a justiça rigorosa poderá apresentar contra ela, ao mostrar misericórdia para com os outros, ela dá prova genuína de que recebeu a misericórdia de Deus.


Conclusão: - O amor e a misericórdia de Deus extrapolam a compreensão humana, pois ainda que se usem os melhores recursos linguísticos, estes não seriam capazes de descrever quão incomensuráveis são essas virtudes divinas. Nem mesmo o amor de uma mãe pelo seu Filho é capaz de sobrepor o amor e a misericórdia de nosso Deus. Por isso, resta-nos expressar esse amor em nossa relação com cada criatura.



Fonte de Pesquisas:
A Revista da CPAD – A Obra da Salvação – 4º Trimestre de 2017.
Bíblia de Estudo MacArthur – SBB.

Lição elaborada pela prof. ª Maria Valda

Pastora da ADMEP.





O SIGNIFICADO DE MISERICÓRDIA NA BÍBLIA



O SIGNIFICADO DE MISERICÓRDIA NA BÍBLIA
23.11.2017



A palavra Misericórdia tem origem latina, e é formada pela junção de miserere “ter compaixão”, e cordis “coração”. “Ter compaixão de coração”, significa ter a capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente; aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém; ser solidário com as pessoas. Portanto, a Misericórdia é um sentimento de compaixão, despertado pela desgraça ou pela miséria alheia. Esse sentimento de ser misericordioso é atribuído a Deus nas diferentes religiões, incluindo o Cristianismo, o judaísmo 

NO ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento as palavras que falam de Misericórdia são: Hesed e Rahªmim.

Hesed, que significa favor não merecido, afabilidade, benevolência e denota graça divina e Misericórdia. O termo em hebraico “hesed”, também indica uma profunda atitude de «bondade». Quando esta disposição se estabelece entre duas pessoas, estas passam a ser, não apenas benévolas uma para com a outra, mas também reciprocamente fiéis por força de um compromisso interior.

Hesed, expressa um presente imerecido e inesperado de graça divina que vai além de todas as expectativas e categorias humanas.  A Misericórdia é, sem dúvida, a qualidade predominante de Deus para com o ser humano (Êx 34, 6, Sl 86, 15). Com o povo de Israel, Deus é compassivo, paciente e tolerante, ao ponto em que todo o bem que acontece com o ser humano é o resultado de Misericórdia de Deus, que se estende a todos (Jn 4,1-11) e dura para sempre (Sl 136).

Quando no Antigo Testamento o vocábulo hesed é referido ao Senhor, acontece sempre em relação com a aliança que Deus fez com Israel. Esta aliança foi da parte de Deus um dom e uma graça para Israel. Contudo, uma vez que Deus, em coerência com a Aliança estabelecida, tinha-se comprometido a respeitá-la, hesed adquiria, em certo sentido, um conteúdo legal. O compromisso “jurídico” da parte de Deus, deixava de obrigar quando Israel infringia a aliança e não respeitava as condições da mesma. E era precisamente então que hesed, deixando de ser uma obrigação jurídica, revelava o seu aspecto mais profundo: tornava-se manifesto aquilo que fora ao princípio, ou seja, amor que doa, amor mais potente do que a traição, graça mais forte do que o pecado.

Rahªmim o matiz do seu significado é um pouco diverso do significado de hesed. Enquanto hesed acentua as características da fidelidade para consigo mesmo e da “responsabilidade pelo próprio amor”; rahªmim denota o amor da mãe (rehem= seio materno). Do vínculo mais profundo e originário da unidade que liga a mãe ao filho, brota uma particular relação com ele, um amor particular. Deste amor pode-se dizer que é totalmente gratuito, não fruto de merecimento, e que, sob este aspecto, constitui uma necessidade interior: é uma exigência do coração. Sobre este fundo psicológico, rahªmim dá origem a uma gama de sentimentos, entre os quais a bondade, a ternura, a paciência e a compreensão, florescem como prontidão para perdoar.

Convém contextualizar o termo hesed à família de palavras em hebraico que remete a três raízes: hânan, râham e hâsad. Os significados destes três termos no Antigo Testamento convergem para a tradução como “Misericórdia”, mas devido a riqueza e complexidade semântica aparecem, dependendo do contexto e tradução como bondade, benignidade, solidariedade, graça, lealdade...

Assim, começando pelo livro do Êxodo: “O Senhor, o Senhor, o Deus compassivo e clemente, paciente, misericordioso e fiel, que conserva a Misericórdia até a milésima geração…” (Ex 34, 6-7a).

Passando por Oséias, pelo capítulo 16 de Ezequiel, o Cântico dos Cânticos, o livro da Consolação (Is 54, 5-10 e Is 62, 4-5) “Tua terra será chamada desposada. Assim teu criador te desposará, assim encontrará em ti sua alegria”. Misericórdia que encontra na amorosa mãe uma imagem – como no capítulo 11 do livro de Oséias: “Israel era ainda criança, e já eu o amava”; ou no capítulo 49 de Isaías: ”O Senhor chamou-me desde o meu nascimento; ainda no seio de minha mãe, Ele pronunciou o meu nome”; Is 49, 15: Mesmo que uma mãe se esquece-se do seu filho, nunca me esquecerei de ti. Is 66: “Sereis carregados no colo e acariciados no regaço”.

Na Misericórdia do Senhor para com os seus, manifestam-se todos os matizes do amor: Deus é para eles Pai (Is 63,16), dado que Israel é seu filho primogênito (Ex 4, 22); ele é também o esposo daquela a quem o Profeta anuncia um nome novo: “bem-amada” (ruhama), porque será usada Misericórdia para com ela (Os 2,3). Mesmo quando o Senhor, exasperado pela infidelidade do seu povo, decide acabar com ele, são ainda a compaixão e o amor generoso para com os seus que o levam a superar a sua indignação (Os 11,7-9).

E então, torna-se fácil compreender a razão pela qual os salmistas, ao quererem cantar ao Senhor os mais sublimes louvores, entoarão hinos ao Deus do amor, da compaixão, da Misericórdia e da fidelidade (Sl 103). De tudo isso se deduz que a Misericórdia, além de fazer parte de Deus, é algo que caracteriza a vida de todo o povo de Israel e de cada um dos seus filhos e filhas: é o conteúdo da intimidade com o seu Senhor, o conteúdo do seu diálogo com Ele. Precisamente sob este aspecto, a Misericórdia é apresentada em cada um dos Livros do Antigo Testamento com uma grande riqueza de expressões.

Deste modo, a Misericórdia se contrapõe, em certo sentido, à justiça divina; e revela-se em muitos casos, não só mais potente, mas também mais profunda do que ela. Já no Antigo Testamento se ensina que, embora a justiça no homem seja autêntica virtude e em Deus signifique a perfeição transcendente, contudo o amor é “maior” do que a mesma justiça; e é maior no sentido de que, relativamente a ela, é primário e fundamental.

A Misericórdia motiva a prece e fundamenta a confiança do povo de Israel. Adia o castigo, mitiga-o e até mesmo o suspende, e triunfa libertando o necessitado. A Misericórdia é o arco extremo que abrange todas as etapas históricas e estabelece a última: porque a Misericórdia de Deus torna a conversão possível e a transformação do homem real.

NO NOVO TESTAMENTO

O termo Misericórdia no Novo Testamento é identificado com o substantivo grego “eleos”. Também é definido com o verbo grego “eleao”. Tanto o substantivo como o verbo significam o sentimento que é experimentado no infortúnio que aflige a outra pessoa e a ação que decorre desse sentimento. Portanto, a Misericórdia de Deus no Novo Testamento se revela como um amor compassivo que vai onde há sofrimento e cura todo tipo de males, mas também revela que é um Deus que perdoa, reconcilia e regenera o homem. Jesus dá mostras constantes dessa Misericórdia em sentimento e em obras: à multidão (Mc 6,34) aos doentes (Mt 14,4), à viúva (Lc 7,13). Também revela o perfil do Pai como sendo um Deus rico em Misericórdia (Lc 15,20).

O verbo “eleein”, no sentido de ter compaixão, ajuda compassiva, piedade, aparece nos sinópticos nas histórias sobre eventos que destacam a irrupção da Misericórdia divina em desgraças humanas (Mc 5,19, 10,47,48: Mt 20,30,31 e Lc 18,38,39). Existe o termo em consonância com a “yess” hebraica (bondade), no Antigo Testamento, que é o comportamento que Deus exige que uma pessoa observe com outra (Lc 10, 25-37). Em Mateus 5,7; 18, 33, o verbo ”eleeo”, expressa a Misericórdia que uma pessoa deve sentir em relação a outra.

Os evangelhos falam sobre a vida de Jesus, uma vida desenvolvida sob o signo da Misericórdia de Deus que intervém na história da humanidade. A vida de Jesus é a cumprimento da promessa e da salvação (Mt 1,22), no contexto de uma história de Compaixão de Deus pela humanidade (Lc 1,50-78). Jesus anuncia Misericórdia por onde anda, pois Ele é a Misericórdia de Deus que se faz presente no meio do seu povo.  Isso é a grande verdade que os evangelhos anunciam. Em Marcos e Lucas, essa Misericórdia é expressada pelo anúncio do reinado de Deus que faz Jesus (Mc 1,1,14). Esta enunciação realizada com sinais que restabelecem a dignidade das pessoas e eles mostram que Jesus veio para “Anunciar as boas novas aos pobres e proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-21).

Jesus não só cura os doentes (Mc 2,17; Lc 5:21), também restaura dignidade dos que são excluídos, por não cumprir com o Parâmetros morais ou religiosos, em seu tempo, e oferece reconciliação aos necessitados de perdão e compreensão. Isto é demonstrado pela sua atitude cheia de indulgência e favor dos pecadores, que acham nele um “amigo” (Lc 5,34), que não tem dúvidas sobre seu coração, apesar das dúvidas de muitos, chegando até mesmo sentar-se em sua mesa (Lc 5,27-32; 7,36-50; 15,1-2; 19,1-10).

Por outro lado, Jesus procura com suas palavras comunicar claramente o significado da Misericórdia de Deus, especialmente através de parábolas que as pessoas entendem. As chamadas parábolas da Misericórdia (Lc 15,3-20) diz Jesus para justificar sua compaixão e condescendência com publicanos e pecadores (Lc 15,1-2). As duas primeiras, a da ovelha perdida e o do Dracma que perdeu (15,3-10), são analogias da alegria que causa a conversão no céu, mesmo que seja apenas um pecador. Para Jesus, aqueles que não merecem Misericórdia, de acordo com os fariseus, são comparáveis à ovelha ou ao dracma perdido e encontrado.

A terceira mostra como um Filho pródigo e libertino está, ansiosamente, aguardado pelo seu próprio pai, que aguarda seu retorno e que, quando visto de longe, o reconhece, enche seu coração de compaixão e corre para abraçá-lo (Lc 15, 11-32). É a imagem mais vívida do amor ilimitado do Pai celestial.  Jesus revela que Deus não mantém a ira contra ele pecador, mas espera pacientemente por sua volta para casa com os braços abertos. Esta imagem ocupa o centro da mensagem de Jesus sobre Deus. Para Jesus, Deus é Pai, porque apenas o amor de pai ou mãe podem explicar o amor incondicional e gratuito de Deus.

O apóstolo Paulo apresenta Jesus Cristo como rosto da Misericórdia divina: Cristo, tendo feito tudo semelhante aos irmãos e tendo experimentado em sua própria carne a dureza do sofrimento humanos (Hb 2,17-18), é “Imagem de Deus invisível, primogênito de toda a criação” (Cl 1,15; cf 2 Cr 4: 4), o Filho o unigênito do Pai, o “reflexo de sua glória, expressão do seu ser” (Hb 1,3). O mistério do "Pai das Misericórdias" (2Cr 1,3; St 5,11), que concedeu sua piedade a Paulo (1Cr 7.25; 2Cr 4.1; 1Tm 1.13) e cumpriu as promessas todos os crentes (Mt 5,7; ITim 1,2; 2Tim 1,2; Tit 1,4; 2Jn 3).



CONCLUSÃO

Percebe-se que nos escritos bíblicos é proclamada a Misericórdia do Senhor por intermédio de vários eventos e de diferentes formas, assim como são usadas diferentes palavras que expressam a mesma realidade da Misericórdia de Deus. Embora sejam somente palavras humanas, mas tendem a convergir num significado teológico, para expressar o um único conteúdo transcendental, que exprime a riqueza divina da Misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo que a revela, a aproxima do homem sob aspectos diversos.

Portanto, a Bíblia encoraja os homens desventurados, sobretudo os que estão oprimidos pelo pecado, assim como todos os homens que têm aderido à Aliança com Deus, a fazerem apelo à Misericórdia e permite-lhes contar com ela. Em seguida, manifesta a necessidade se dar graças e glória a Deus pela Misericórdia, todas as vezes que ela se tenha manifestado e realizado na vida das pessoas.

Assim como na pregação dos Profetas, a Misericórdia significa a especial força do amor, que prevalece sobre o pecado e sobre a infidelidade do povo eleito. Também hoje o homem é chamado a viver a Misericórdia de Deus quando está distante do caminho de Deus, longe do Pai, e, portanto, vive uma vida distorcida de dos valores cristãos, é nesse momento que mais precisa dos cuidados do Pai amoroso e misericordioso que espera com os braços abertos para que o homem volte para a casa paterna junto de Deus.

A Misericórdia divina é a qualidade quase predominante de Deus com relação ao homem; inclui os aspectos de compaixão, ternura, clemência, piedade, paciência, tolerância. A rigor, todo benefício de Deus ao homem tem carácter de Misericórdia, pois não se baseia em direitos ou méritos humanos, mas na própria essência de Deus.

Para o Papa Francisco, a Misericórdia não é uma palavra abstrata, mas um rosto para reconhecer, contemplar e servir. E assim o manifesta na Bula da Misericórdia com que convoca o Jubileu: “Jesus de Nazaré com a Sua palavra, com os seus gestos e com toda a Sua pessoa revela a Misericórdia de Deus. N’Ele não há nada em que falte compaixão”. O Papa anima todos os cristãos a serem misericordiosos uns com os outros porque “a Misericórdia é a chave que sustenta a vida da Igreja”. Pois Jesus em “Sua Pessoa não é outra coisa senão Amor, um amor que se doa e oferece gratuitamente. Os sinais que realiza, sobretudo para com os pecadores, para com as pessoas pobres, excluídas, doentes e em sofrimento, levam consigo o distintivo da Misericórdia”.


Bibliografia Consultada
1 – A Bíblia do Peregrino.
2 – Chave Bíblica.
3 – Harris, R. Laird, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.
4 – Smith, Ralph L., Teologia do Antigo Testamento.
5 – Gonzáles, Justo L. Diccinario Manual Teológico,
6 – Martín A. (1969) Teología de la Esperanza, Respuesta a la Angustia Existencia.
7 – Comentario al Nuevo Testamento, William Barclay. 1999 por CLIE para la versión española. Publicado originalmente en 1970 y actualizado en 1991 por The Saint Andrew Press, Escocia.


Elías Nova Nova
Diplomado em Teologia – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE | Belo Horizonte, Brasil (2002)
Licenciatura Plena em Filosofia e Letras – Universidade de Santo Tomás de Aquino | Bogotá, Colômbia (1996)
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